domingo, 27 de janeiro de 2008

Estou pasmo, é Fantástico!!!

Acabei de ver no Fantástico um grupo de pesquisadores do RS que deseja aplicar a técnica de ressonância funcional em menores infratores para descobrir se eles possuem alguma alteração cerebral que justifique sua violência. E o pior é que o programa abriu uma enquete perguntando se isso seria válido que resultou em uma assustadora concordância de 90% dos votantes.

Como disse no título: Estou pasmo!!!

Mesmo sem considerar o aspecto ético, a pesquisa é metodologicamente errada. Ainda que se descobrisse que 100% dos infratores possui a mesma alteração cerebral - resultado completamente improvável - isso não levaria a conclusão nenhuma. Para que uma pesquisa desse tipo tenha validade, há necessidade de se testar uma amostra significativa da população; levantar características funcionais do cérebro, que ainda não somos capazes de interpretar - afinal, quem já leu um pouco sobre ressonância cerebral sabe que ela monitora o consumo energético das regiões do cérebro, sem que seja possível identificar se essa atividade se dá nos neurônios excitadores ou inibidores daquela região - e compará-las com a evolução do comportamento no tempo. Além do quê, características comportamentais também não são isoláveis, e dependem de uma avaliação subjetiva do observador. Basta ver o que é considerado aceitável hoje e que há 50 anos era condenável ou criminoso.
Para ter validade científica, a pesquisa, ainda mais esta com um objeto tão subjetivo quanto a questão da criminalidade, obrigatoriamente teria de ser realizada em duplo-cego, ou seja, nem o examinador nem o examinando sabe do resultado da pesquisa até o levantamento da correlação entre os dados.
Olhando ainda por outro ângulo, as mesmas características que podem fazer de uma pessoa um psicopata - a saber: capacidade de analisar as situações; desconsiderar as necessidades dos outros; e tirar proveito disso para si mesmo - são as necessárias para um empreendedor de sucesso. Mas não iremos fazer os mesmos testes com esses profissionais, só com os menores da Febem.
De nada nos servirá descobrir se o neo-cortex daqueles jovens possuem essa ou aquela característica, deveríamos sim pensar por que só restou a eles o uso dessas características em atividades ilegais.
Cada um de nós é o resultado complexo da interação de fatores sutis e múltiplos. Tentar nos reduzir a expressão única de uma estrutura cerebral ou a de um gene é, no mínimo, anti-científico. É ignorar tudo o que vem sendo produzido pela psiquiatria e psicologia e voltar ao século XVIII.
Além disso, uma vez fechado o suposto diagnóstico, o que fazer? Trancar o jovem em um manicômio judicial para toda a vida? Retrocesso total na luta anti-manicomial que vem sendo realizada no Brasil.
Minha sugestão é que se faça o teste nos próprios cientistas; afinal, alguém que deseja dispersar nossos já poucos recursos públicos em uma pesquisa metodologicamente equivocada e que terá resultados que só servirão para confundir e discriminar uma população já sofrida, claramente está apresentando um comportamento psicopático muito pior do que o daquele garoto de favela, sem educação, saneamento, segurança e perspectiva de melhoria de vida que decide se alistar no exército do tráfico.

Desejos para 2008



Conta a lenda grega que os ciclopes eram serem poderosíssimos, gigantes filhos de Urano, o céu, e de Gaia, a terra. Ávidos para conhecer o futuro deram um olho para saber o que viria.

Por isso se tornaram seres tristes.

Enquanto curtia as festas de fim de ano pensei nesta lenda. Que alegria é abrir os presentes que recebemos. Curto ir desembalando-os aos poucos, saboreando o prazer de não saber o que vira.

E as festas?...Quem estará lá?... Que reencontros elas poderão nos trazer? Que prazer nos traz a antecipação e a expectativa das alegrias e comemorações.

Assim resolvi quais seriam meus votos neste fim de ano: que 2008 possa ser repleto de presentes. Que cada dia que amanheça seja um presente embalado no papel do desconhecido, e que vivê-lo possa trazer o mesmo prazer que temos ao desembalar um presente.

Que cada dia-presente possa nos estimular à descoberta de suas possibilidades, e ao prazer de transformar o desconhecido no real.

Feliz ano novo, e bons presentes.

Pierre