quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

É de arrepiar - Viradouro


Muito bem, estou impressionado com a agilidade da justiça no caso do carro alegórico da Viradouro. Como poderíamos aceitar que o Carnaval do Rio exibisse a imagem de Hitler, cercado de sambistas trajados como soldados da Gestapo e ainda por cima dançando sobre a imagem dos corpos dos campos de concentração.

Impensável, pelo menos aqui no Rio. Afinal esta imagem eu já ví em pelo menos uma dezena de filmes de Holywood, e já rendeu todos os dolares que poderia. E com o aplauso entusiasmado da comunidade internacional. Mas cinema é bem diferente de carnaval... O carnaval é nosso, e o cinema é deles.

Mas a juíza Juliana Kalichsztein, do plantão noturno do Fórum do Rio de Janeiro (segundo a notícia da Agência Estado de publicada na UOL - Últimas Notícias em 31/01/08 13:40) proibiu a utilização do carro, que custou R$400 mil a Viradouro. Que agilidade!!! 24 horas antes da obra ser veiculada ela impediu o "vilipêndio do sentimento religioso" dos descendentes dos 6 milhoes de judeus de judeus massacrados por Hitler 63 anos atrás.

Mas, esta cabeça que não para de pensar seguiu adiante. Muito bem, mas quando teremos nosso julgamento de Nuremberg para as 46600 jovens vítimas por ano da violência decorrente da falta de política de segurança; ou dos 45000 mortos por ano no trânsito; ou, mais ainda, das incontáveis vítimas da falência dos nossos sistemas de saúde, saneamento, emprego, etc...(juro procurei as estatísticas, mas não foram notícia)

Provavelmente boa parte do espetáculo da Viradouro continuou, nos belos passos gingados dos sambistas da comunidade, na sua maioria vítimada pelos descaminhos de nossas políticas públicas. Mas isso não teve voz, isso não merece atenção...

Acho que após este ano o Chico Buarque vai ter de rever o verso de sua música "Vai Passar" que diz:
...Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar / A evolução da liberdade até o dia clarear...

Liberdade??? Bom, pelo menos não a de expressão

domingo, 27 de janeiro de 2008

Estou pasmo, é Fantástico!!!

Acabei de ver no Fantástico um grupo de pesquisadores do RS que deseja aplicar a técnica de ressonância funcional em menores infratores para descobrir se eles possuem alguma alteração cerebral que justifique sua violência. E o pior é que o programa abriu uma enquete perguntando se isso seria válido que resultou em uma assustadora concordância de 90% dos votantes.

Como disse no título: Estou pasmo!!!

Mesmo sem considerar o aspecto ético, a pesquisa é metodologicamente errada. Ainda que se descobrisse que 100% dos infratores possui a mesma alteração cerebral - resultado completamente improvável - isso não levaria a conclusão nenhuma. Para que uma pesquisa desse tipo tenha validade, há necessidade de se testar uma amostra significativa da população; levantar características funcionais do cérebro, que ainda não somos capazes de interpretar - afinal, quem já leu um pouco sobre ressonância cerebral sabe que ela monitora o consumo energético das regiões do cérebro, sem que seja possível identificar se essa atividade se dá nos neurônios excitadores ou inibidores daquela região - e compará-las com a evolução do comportamento no tempo. Além do quê, características comportamentais também não são isoláveis, e dependem de uma avaliação subjetiva do observador. Basta ver o que é considerado aceitável hoje e que há 50 anos era condenável ou criminoso.
Para ter validade científica, a pesquisa, ainda mais esta com um objeto tão subjetivo quanto a questão da criminalidade, obrigatoriamente teria de ser realizada em duplo-cego, ou seja, nem o examinador nem o examinando sabe do resultado da pesquisa até o levantamento da correlação entre os dados.
Olhando ainda por outro ângulo, as mesmas características que podem fazer de uma pessoa um psicopata - a saber: capacidade de analisar as situações; desconsiderar as necessidades dos outros; e tirar proveito disso para si mesmo - são as necessárias para um empreendedor de sucesso. Mas não iremos fazer os mesmos testes com esses profissionais, só com os menores da Febem.
De nada nos servirá descobrir se o neo-cortex daqueles jovens possuem essa ou aquela característica, deveríamos sim pensar por que só restou a eles o uso dessas características em atividades ilegais.
Cada um de nós é o resultado complexo da interação de fatores sutis e múltiplos. Tentar nos reduzir a expressão única de uma estrutura cerebral ou a de um gene é, no mínimo, anti-científico. É ignorar tudo o que vem sendo produzido pela psiquiatria e psicologia e voltar ao século XVIII.
Além disso, uma vez fechado o suposto diagnóstico, o que fazer? Trancar o jovem em um manicômio judicial para toda a vida? Retrocesso total na luta anti-manicomial que vem sendo realizada no Brasil.
Minha sugestão é que se faça o teste nos próprios cientistas; afinal, alguém que deseja dispersar nossos já poucos recursos públicos em uma pesquisa metodologicamente equivocada e que terá resultados que só servirão para confundir e discriminar uma população já sofrida, claramente está apresentando um comportamento psicopático muito pior do que o daquele garoto de favela, sem educação, saneamento, segurança e perspectiva de melhoria de vida que decide se alistar no exército do tráfico.

Desejos para 2008



Conta a lenda grega que os ciclopes eram serem poderosíssimos, gigantes filhos de Urano, o céu, e de Gaia, a terra. Ávidos para conhecer o futuro deram um olho para saber o que viria.

Por isso se tornaram seres tristes.

Enquanto curtia as festas de fim de ano pensei nesta lenda. Que alegria é abrir os presentes que recebemos. Curto ir desembalando-os aos poucos, saboreando o prazer de não saber o que vira.

E as festas?...Quem estará lá?... Que reencontros elas poderão nos trazer? Que prazer nos traz a antecipação e a expectativa das alegrias e comemorações.

Assim resolvi quais seriam meus votos neste fim de ano: que 2008 possa ser repleto de presentes. Que cada dia que amanheça seja um presente embalado no papel do desconhecido, e que vivê-lo possa trazer o mesmo prazer que temos ao desembalar um presente.

Que cada dia-presente possa nos estimular à descoberta de suas possibilidades, e ao prazer de transformar o desconhecido no real.

Feliz ano novo, e bons presentes.

Pierre